"Nesses poemas ambientados em nossa desmesurada urbe, São Paulo transforma-se no cenário de um pisar rasteiro e sublime a um só tempo, delicado e vulgar, sujo e – no rastro de Sade – indutor de um sentido sexual refinado e não exangüe: fortíssimo. Essa "musa que pisa" conduz o poeta ao centro desse sentido, que lhe nomeia e é o lugar de origem dos poemas que lemos.
No teatro do amor sádico, joga como a dominá-la o poeta. Melhor para o leitor, que nessa ilusão redescobre o velho tema elusivo da origem da poesia, o seu distinto perfume imemorial e, de fato, inenarrável, irreduzível a teorizações, figurações, acertos, e que desde o mundo clássico encontrou no arquétipo da musa uma perfeita ilustração."
Horácio Costa
Confira o poema
começa pela capaconcebe o sentido com relaçãoa juba do leão parece estampa do vestidoa corsa pisa minha cara com seus pés de bronze
o livro vale pela capareproduzindo tecnicamenteo delírio gráfico de Gutenbergfoi iluminado pelo espírito divino
prolifera feito câncer pelas livrariasse oferece como putao filho da puta merece ser compradopor otários frankfurtianos fora do mercado
Antonio Vicente Seraphim Pietroforte nasceu em São Paulo, em 1964. É mestre e doutor em Semiótica e Lingüística pela USP, onde leciona atualmente. Entre 2005 e 2006, coordenou, com o poeta Frederico Barbosa, o projeto Rompendo o Silêncio, na Casa das Rosas, em SP, e, em 2006 , o Escritor nas Letras, junto com o Centro Acadêmico de Estudos Literários e Lingüísticos Oswald de Andrade. É autor de Amsterdam SM (Dix Editorial, 2007).